terça-feira, 15 de setembro de 2015

Depeche Mode na balada.


https://www.youtube.com/watch?v=m0AKJMGxwpE




Tocando Depeche Mode. "Enjoy The Silence".

Observo a garota dançando de frente para um cara alto.

Ela parece bêbada. Sorri. Está sensualizando e percebe meu olhar. Eu percebo que ela percebeu.

Continuo olhando quase deixando a baba escorrer pelo meu queixo.

Ela finge que não está acontecendo nada.

Pensei: "dei uma moral no ego da garota... se o namorado não deu moral, eu dei. muita".

Ele se afastou. Eu fui o babaca que chega na garota qd não tem macho lá perto.

Cheguei perguntando se o cara era o namorado dela. Ela sorriu e disse que não. Pergutnei se era solteira. Ela disse que sim.

Perguntei o nome. Sobre o show. Sobre o que ela estava esperando. Daí no primeiro momento de "fim de papo",  a gente se olhou sorrindo e a beijei.

sábado, 18 de julho de 2015

A Festa

Numa festa com uma desconhecida. A conversa dura horas. Você se esquece do copo de cerveja gelada ou do churrasco quentinho que acabou de ser servido. 

Vocês conversam de tudo. Ela ri das suas piadas. Ela ri de você. Vocês riem juntos e continuam falando. Quando discordam, existe um clima de implicância e provocação. Até o fato dela votar na Dilma não é motivo de discussão. Você provavelmente votaria na Dilma por causa dela. Não existe conflito. 


As pessoas percebem o clima. Deixam vocês dois a sós. A conversa é sobre um livro chamado Retalhos. Passa para Daytripper. Caminha pela Segunda Guerra. Os dois estão em pé, lado a lado, olhando para o vazio da quadra. Quando os ombros se tocam, o frio passa. A respiração muda. 


Até tentam continuar a conversa, mas ao se olharem percebem que é mútuo. 


Você a conduz para o canto escuro. Vocês se beijam. Sujo. Saliva. Cuspe, mordidas. Seu dedo entra dentro dela. A calcinha molhada, a boceta mais ainda. Sua curiosidade é sentir o gosto dela e então interrompe o beijo para chupar o próprio dedo. Os olhos dela brilham. 


Segundos depois ela se agacha e engole o seu pau inteiro de uma vez. Você a escuta engasgando. Ela lança aquele olhar safado de quem quer saber se está fazendo direitinho. Cospe na própria mão e esfrega no pau inteiro. Você começa a tremer a perna. Mais uma chupada inteira. Você sente que ela seria capaz de te fazer gozar apenas com a boca. Algo que você só descobriu ser possível há poucos meses. Quando o pensamento de esporrar na boca dela começa a parecer realidade, ela se levanta já com a calcinha abaixada, pega o seu pau e enfia de uma vez dentro de sua boceta. Ela está virada de frente pra parede rebolando enquanto você a segura firme pela cintura. Delirando com o perigo.


Ela é apertadinha, mas está tão molhada que você entra fácil. Ela pede para você foder com força. Com mais força. Com mais força. Você começa a gemer com o som das palavras dela. Mete com velocidade e força para sentir o prazer saindo da boca dela. 


Antes dela começar a rebolar com mais força, ela te olha e abre os lábios como se estivesse com água na boca. É a senha. Você esporra dentro dela. Você goza e treme e morre de tesão. Ela sorri. Diz para você não parar e então se agacha novamente para mais um boquete. 


Você se impressiona com a qualidade do trabalho. Pergunta se as pessoas estão imaginando o que vocês estão fazendo. Ela diz que não se importa. Depois admite ter conversado com uma amiga em comum e revelado o interesse em foder com você na festa. A informação te excita. Rápido. Pronto para a segunda. Ela continua chupando e depois de deixar o pau bem duro e molhado, volta a encaixar dentro de sua boceta que está pingando porra. 


A foda está gostosa e ela goza rapidinho. Quando você começa a ir mais forte para gozar e voltar logo para a festa, ela tira o pau de dentro, cospe nele inteiro e enfia dentro do cu. De uma vez. Você sente entrando de uma vez. Até pensa: “caralho, que arrombada!”, mas percebe o tesão dela ao dizer que “precisava sentir seu pau no meu cuzinho. Eu sei que você gosta.”. 


É a senha. O impossível acontece. Você esporra mais que da primeira vez e ela se abaixa novamente para engolir as últimas gotinhas. E ela limpa a boca e se levanta para um beijo com gosto de sexo. 


Você agradece por ter recusado a Vodka. E se pergunta de que inferno saiu esse demônio de cabelos pretos para te tirar do sério. 

domingo, 23 de novembro de 2014

Sobre o RPM ontem

Ouça: "Olhar 43" - RPM



Tinha uma necessidade pessoal de ver ao vivo todas as bandas que já ouvi quando era moleque. No caso do RPM, era mais "especial" porque Radio Pirata foi o primeiro LP que ouvi. Lembro de ser um pirralho catarrento que ficava se revezando em gravar músicas na 98fm e ouvir as bolachonas. Ontem surgiu a oportunidade de resolver essa pendência e lá fui acompanhado do meu amigo Jonesy. 


Confesso que não escutava RPM há anos. Fora as duzentas versões da música do BBB, eu não sabia mais nada sobre os caras desde aquele "retorno triunfal" para a MTV em 2002. Tinha a vaga lembrança das músicas e concluí que elas ficariam melhores acompanhadas de muito alcool. Uma verdadeira orgia de saliva, cevada, milho e água. Assim fizemos. Com um pacotinho de pão de queijo para acompanhar e não dar ruim depois, claro. 



Com mais de uma hora de atraso, já começamos a comparar Paulo Ricardo com Axl Rose. E olha que eu nem sabia que ele estava gordo. Na verdade, inchado. Depois de trocar de roupa três vezes e fazer questão de apresentar a maioria das canções num excesso de simpatia que poderia muito bem ser interpretado como excesso de vaidade e ego elevado, a comparação com o vocalista do Guns não poderia ser mais acertada: ambos se tornaram sombras do que eram e parecem realmente viver presos no passado. PR usou a palavra "danceteria" diversas vezes. Meu Brasil, estamos em 2014. É feio falar "danceteria" em público. Sei que podia ser pior. Ele poderia ter falado "discoteca". Imagine só!



Concluímos que a cerveja de abertura não seria o bastante. Iniciei uma longa e animada conversa com a atendente e disse que a noite seria longa. "Precisarei de artilharia pesada! Chama o José!". Como um bom soldado, nosso amigo José Cuervo se apresentou e cumpriu a sua missão. PR diz que o RPM tem influências do rock progressivo, né? Em "Naja", faixa instrumental, percebi que o José não fracassava nunca e que sons psicodélicos (essa é realmente boa, embora tenha soado um tanto brega) aliados a efeitos visuais dignos de filmes sci-fi são ingredientes fatais para o sucesso do José. 



Sentindo o corpo explodindo de calor de dentro para fora, e no meio de uma pista estranhamente fria e vazia para uma noite de sábado no Chevrolet Hall, o show começou a ficar aceitável. Cada vez mais surreal (em "Rainha", o telão fazia questão de mostrar imagens bastante ilustrativas da letra, com uma lingua vulgar. Sim. EU achei aquilo vulgar), mas divertido. Os melhores momentos aconteceram quando PR iniciou uma das várias medleys da noite. Essa em especial foi marcante: "Imagine" (John Lennon), "No Woman no Cry" (Bob Marley) e "One" (U2). Por algum motivo que não me lembrarei agora, começamos a rir muito. Era surreal imaginar que o "rock progressivo" havia se transformado radicalmente num intervalo tão curto de tempo. A minha barriga estava doendo de verdade de tanto que a gente estava rindo e se divertindo. Lágrimas escorreram pelo meu rosto. Ria cada vez mais alto. As pessoas estavam ficando meio chateadas com minhas gargalhadas incessantes. Confesso que eu e o John não estavamos sendo as pessoas mais legais e tranquilas do recinto com as risadas e comentários cada vez mais maldosos. No entanto, o que me fez ajoelhar de verdade foi quando PR disse que "a década de 1970 havia sido muito importante para o rock". Ele incluiu U2 no pacote. Foi demais para mim. Depois dos nossos gritos indignados, algumas pessoas passaram a concordar e rir COM a gente.



Tentei cantar juntinho em algumas músicas. Fracassei miseravelmente na maioria. Em outra medley, PR e sua trupe iniciaram "Wish You Were Here", do Pink Floyd. Essa eu sabia cantar. Essa eu queria cantar. No ponto alto do amor, o vocalista cortou para uma música do RPM. O John olhou para baixo, incrédulo e disse: "Não se mistura uma música do PF com RPM. Não pode. Não pode.". Tentamos acompanhar "Olhar 43" (que teve uma apresentação vergonhosa e digna de uma banda que realmente se acha relevante), "Alvorada Voraz" (eu sabia fazer o acompanhamento do teclado pelo menos), e "Rádio Pirata" ("toqueeeee o meu coraçãaaao"). Por esses momentos, quase pude acreditar que estava num show para relembrar minha infância. Quase. Não posso deixar de mencionar um cara que ficou com os braços abertos durante uma música inteira. Senti vontade de ir até ele e dar um abraço. O show acabou e começamos a observar o público. Não sei se era apenas a bebida fazendo efeito ou se o Chevrolet não tinha gente o suficiente nessa noite, mas não me lembro da pista ficar vazia tão rápida. Fiz uma breve entrevista com uma família (Adoro essas interações - e eu sou cruel nesses momentos) e achava que aquele seria o fim de uma noite inesquecível de sábado. Sem sexo, veja bem. No entanto, o melhor SEMPRE fica para o final. Como crítico de cinema, eu deveria ter isso em mente o tempo inteiro.



Quase na saída da casa, vi uma garota perder o sapato. Gritei: "Moçaaaaa, você perdeu o seu pé!!!", com um sorriso maroto e a linguinha de fora. Gentilmente, como não conseguiria deixar de ser, ofereci meu braço para que ela se apoiasse e calçasse o sapato, né... Daí foi a vez dela falar sensualizando: "E foi você quem encontrou meu sapato". Dei um sorriso educado e continuei andando com a barriga se contorcendo mais que nas séries malucas de abdominais que faço na academia. Minha vontade foi deitar na posição fetal e derreter de tanto rir. O John evitou qualquer contato visual comigo depois da cena e repetia: "Quero ir para a casa dormir. Quero ir para casa. Chega por hoje". 



Encontrei um taxista que ainda botou mais pilha dizendo que a menina não tinha um "sapatinho", mas um "kichute, um kichute no saco". E fomos rindo da Savassi até a minha casa. Achei que o efeito fosse passar depois que começamos a falar de futebol (o fdp era torcedor do time azul e estava com aquele ar de "sou foda") e depois política. Felizmente entrei em casa feliz o suficiente para azucrinar algumas pessoas pelo Facebook antes de apagar e sonhar com o que encontrarei no dia 12 ou 13 de dezembro, quando fecharei minha conta nacional com o Ira!, mas desta vez não vamos precisar recrutar José nenhum para a noite ser foda.

(Para saber mais do show do RPM leia a cobertura completa no Audiograma

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A Ligação


- Olha, eu vou foder a sua vida inteirinha. Porque eu posso fazer isso. E você não. Você vai ficar quietinho me assistindo destruir tudo que você mais gosta, mais amou, mais acreditou e sonhou. E eu vou fazer isso porque eu posso. O que? Claro que não. Você não pode fazer nada enquanto piso, manipulo, engano, machuco, me vingo. Farei tudo isso por mim. Apenas por mim. Arrependimento? Você está louco que me arrependerei por pensar em mim pela primeira vez na vida? Você merece passar por isso. Você me fez passar pela mesma coisa. Ainda te amo, mas se você dormiu com uma pessoa durante nosso relacionamento, eu sinto muito, mas eu vou dormir com duas. E se você tivesse feito isso com mais gente, eu dormiria com o dobro. Eu terei o prazer de ver você se ajoelhando, humilhando e implorando para voltar. Minha vida estará melhor do que você nunca foi capaz de oferecer, pois na verdade, eu me importo apenas com segurança, algo que você sempre foi incapaz de me oferecer. Oh, não, não. Aposto que você está fazendo uma cara de choro. Não suporto homem chorão. Aprenda a comprar suas cuecas, seu moleque. Você é um merda chorão e temperamental. Mulherzinha. Ah, mas eu te amo. Você ainda é o amor da minha vida. A gente vai ficar junto, ah, a gente vai, vai, vai, vai, vai, vai. Ah, mas antes eu vou ali me casar com outra pessoa. Me espere, tá? Eu sou sua para sempre, seu lixo incompetente, imaturo, egoísta e cruel. Você é horrível. Uma pessoa cruel. CRUEL. CRUEL. CRUEL. Ele me acolherá. Me levará de carro e até mesmo pagará as minhas contas. Sim, a educação e o jeito dele me tratar como NINGUÉM nunca fez na vida fazem compensar o tamanho debilitado das coisas interessantes. Aliás, deixe-me ser justa: você pelo menos servia para foder. Ainda que eu sempre pensasse que havia uma terceira pessoa na cama... ah, tudo bem, quatro pessoas na cama. Era triste ver os seus olhinhos fechando durante o orgasmo. Você é patético. Patético. Estou tão livre, estou tão leve. Estou feliz. E você, Rodolfo? E você? Vai se enganar tomando café com leite e adoçante na casa das suas putinhas? Vai se enganar achando que será capaz de me esquecer algum dia? Deus, veja a sua pele. Rodolfo? Rodolfo? Você ainda está aí?


- Sim, ainda estou aqui. Mas meu nome é Pedro. Acho que você discou para o número errado. Sinto muito pelo Rodolfo.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Top 5: Melhores Abraços


Se passaram seis anos desde a última vez que escrevi publicamente um TOP 5 sobre algo pessoal. Na ocasião, citei os melhores fins de relacionamentos a que já havia experimentado. Eu mudaria muita coisa nessa lista, posso assegurar. Ao invés de embarcar em uma piscina de lágrimas magoadas, preferi falar sobre abraços. Quis relembrar os cinco momentos em que abracei/fui abraçado e que significaram algo especial na minha vida. Propositalmente, omiti o dia em que um morador de rua quis me encoxar depois de dizer que eu "era muito aconchegante".

Para muitos de nós, o abraço está diretamente relacionado ao carinho, amizade, amor, sexo. Como humanos, criaturas bípedes com a pretensão de se achar mais evoluída que os nossos amigos macacos, temos a necessidade de tocar, ser tocado. Sentir o calor humano. A gente sente isso naturalmente, e aí podemos pensar justamente nos macaquinhos que ficam se abraçando e tocando quando filhotes. No entanto, é extremamente surpreendente pesquisar sobre a origem do abraço e descobrir que tudo começou com os mafiosos italianos, aparentemente.

Não pense que eram demonstrações de afeto da Família. Os sebosos se abraçavam, davam tapinhas nas costas, e na cintura para ter certeza que o sujeito estava desarmado. No Japão, o costume era diferente, já que eles preferem resolver as coisas com espadas, e portanto fazem aquela reverência com o corpo inclinado para frente, o que possibilitaria ver se uma adaga/espada estaria escondida nas costas da pessoa em questão.

Deixando de lado os costumes mafiosos, quero dedicar esse texto para todas as pessoas que um dia me abraçaram ou foram abraçadas. Para todos os meus amigos, obrigado pelo apoio, carinho, paciência e amor. Vocês são importantes.

Casamento do Weverton em 2013


Conheci o Weverton durante o ensino médio. No começo, a relação não era muito amistosa. Eu era novato na escola e adolescentes podem ser um tanto terríveis. Demorei para me ajustar, e sinceramente, nunca fui um tipo muito comum. Essa dificuldade inicial me fez ser excluído da maioria das coisas da turma e ainda me rendeu o apelido carinhoso de "jacu".

Engraçado é que demorou para a gente se aproximar. Hoje, mais de dez anos depois de nossa formatura, ele foi um dos poucos com quem mantive contato e amizade mesmo - ainda que nossos encontros sejam extremamente raros. No  ano que finalmente ficamos mais próximos. É comum, né? O último ano que passaremos ao lado de pessoas que estiveram conosco diariamente por tanto tempo é o ano em que percebemos o quanto vamos sentir falta dessa época.

O Weverton estava no primeiro dia em que experimentei alcool. Na verdade, ele foi a primeira pessoa que vi bêbada. Lembro perfeitamente dele comprando batatinha numa rede de fast food e correndo de todo mundo que tentava pegar as batatas dele. Me recordo com igual riqueza de detalhes o momento em que pulei no ombro dele e esqueci de me segurar. Foi um bom tombo para um dia hilário. Era o começo da "vida", de explorar a noite, de fugir da rotina em casa e experimentar as coisas boas da vida. Meses depois, a gente já tinha ido num número considerável de shows juntos. Tianastácia, Pop Rock Brasil, e o lendário show do Charlie Brown Jr. com o Raimundos (com o Rodolfo no vocal ainda), quando ele perdeu o relógio, dinheiro e descobriu a beleza.

Em 2013, dez anos após nossa formatura, o Weverton trocou alianças e juras de amor eterno com a sua namorada. Foi um relacionamento que começou em 2003, e eu vi tudo começando. Das cartinhas de amor até os telefonemas naquela promoção de 31 anos da Oi. Ele foi o meu primeiro amigo a se casar de verdade e não poderia ter mais orgulho desse carinha, portanto o quinto lugar do meu TOP 5 de Melhores Abraços tinha que ficar com ele.

Depois da cerimônia de casamento, o qual fui acompanhado da minha ex-namorada que vocês conhecerão daqui a pouco, aconteceu aquela tradicional fila para cumprimentar os noivos. Alguém sugeriu dar um abraço no Weverton e simplesmente não soltar o cara. Claro que achei isso extremamente engraçado, embora hoje fique pensando que foi algo meio idiota e sem noção, mas sou acostumado a fazer loucuras e esse tipo de coisa. Chegou a minha vez, desejei o melhor para aquele loiro safado e continuei abraçado em silêncio. Deu até para notar o momento em que ele ficou chateado. "Que porra é essa? Esse maluco não vai me soltar?"Eu soltei, claro. Mas foi um abraço sincero em um grande amigo no dia mais importante da vida dele. Casamentos são especiais e ter participado disso é algo que me deixa orgulhoso, e reflexivo sobre o quanto estamos ficando velhos...


Débora no Pop Rock Brasil em 2005


Todo mundo já se apaixonou por alguém que não estava nem aí para você. Essa é uma verdade soberana que causa arrepios e pesadelos para muitos adolescentes. Provavelmente, muitos tiveram que fazer terapia por isso. Veja bem, não se trata de levar um fora, um daqueles tocos muito bem dados, se trata de simplesmente ser ignorado. A pessoa sequer te enxerga. Vivi isso em muitas oportunidades e me tornei frio para evitar novas mágoas, mas sou capaz de relembrar de uma história em especial com um sorriso no rosto.

Conheci a Débora enquanto vivia o final de um relacionamento destrutivo. O que é uma redundância, se tratando do meu histórico pessoal. Vi a foto dela na comunidade da nossa escola no Orkut, percebi amigos em comum, e iniciei uma conversa inocente. Depois que terminei, achei que seria interessante investir na menina branquela de cabelos negros que gostava de Incubus. O saudoso MSN era o nosso "ponto de encontro" exclusivo. Basicamente, o papo era sempre meio mongol, comigo falando gracinhas para ela rir, e a gente discutindo sobre quais bandas eram melhores, qual filme a gente tinha assistido recentemente, esse tipo de besteira adolescente que faz os adultos vomitarem de vergonha quando se recordam. "Sério que eu falei isso para uma menina? E sério que ela caiu nesse papo mole?"

Lembro que comecei a ir na porta da escola de vez em quando para encontrar com ela. Nunca rolou nada. Eu sequer tentava, para ser sincero. Era tudo muito inocente. Não existiam nem olhares. Uma autêntica paixão platônica, daquelas que ouvimos em tantas canções românticas por aí. As coisas começaram a mudar no dia em que a convidei para o cinema.

"Ei, vamos no cinema?"
"Claro. Será que o povo anima? Vou combinar com eles para a quarta-feira e a gente vai, tá?"

Ao ouvir a palavra "povo", meu rosto trincou. "Que desgraça de povo do caralho! Queria ir no cinema sozinho com você, porra!". Ao invés de dar um ataque de plumas, deixei rolar. Dias depois retornei a ligação para confirmar o cinema.

"E aí? Tudo certo para amanhã?"
"Ih, TT... ninguém animou. Só eu mesmo..."
"Ué, então vamos nós dois..."
"Ah, não. Acho que você está confundindo as coisas... A gente é amigo."

Ao ouvir "confundindo as coisas", senti o macarrão do almoço voltando para o lugar de onde entrou. O medo de vomitar falando no telefone me fez pensar rápido e ter a incrível capacidade de ignorar o "a gente é amigo":

"Como assim? Eu tô confundindo o que? Somos amigos que não podem sair juntos?"

Cheque-mate, bitch.

Ela não tinha como retrucar, já que tudo era velado demais. Deixamos assim. Não rolou cinema. Não fui mais na escola. Não entrava mais no MSN como antes. A gente se afastou naturalmente. Eu havia desistido. Não me lembro ao certo, mas provavelmente tinha partido para outra. E isso não significa "sucesso", tenha certeza. Alguns meses se passaram até o nosso reencontro inesperado durante uma edição do festival Pop Rock Brasil, de 2005. Eu estava acompanhado do meu amigo Vinícius Coimbra e estávamos ansiosos pelo show do Ramirez. É. Que fase.

Acho que a gente estava flertando com um grupo de meninas (ou pelo menos a gente estava tentando ou achando que era isso que estava acontecendo), quando de repente alguém apareceu pulando em cima de mim. Literalmente. Eu podia ter caído no chão, já que força não é, e nunca foi, o meu forte. Demorei para reconhecer a magrela de cabelos pretos, e então a gente se atracou num abraço bem forte, daqueles que a gente dá quando reencontra alguém e fica realmente contente. No instante seguinte em que ela me soltou, a Débora olhou para o Vínicius, que até então não tinha a menor ideia de quem era ela.

Nesse momento, o meu computador mental começou a relembras as seguintes informações: 1) Débora curtia meninos com alargadores na orelha; 2) Débora curtia meninos que tinham um certo visual skatista ou qualquer coisa que fosse remotamente parecido com o visual do Brandon Boyd, do Incubus; 3) Débora gostava de meninos altos; 4) O Vinícius preenchia todos os requisitos. Exatamente o tipo de menino que ela pirava.

Eu era magrelo, branquelo, com cabelos compridos e totalmente bagunçados. Meu visual era a última coisa que chamava a atenção, certamente. Senti ciúme da situação depois de uma leitura rápida da tensão entre os dois. Acabei desencanando. Ela já havia me dado um toco antes, nada havia mudado. Que ela fosse feliz beijando o meu amigo então - mas aquele abraço tinha sido gostoso demais para não significar nada. Carinho apenas? Depois de uma conversinha mole dos dois, a Débora saiu com uma amiga e foi para outra parte do local do show.

Achei que não a encontraria de novo, mas graças a uma sucessão improvável de eventos, eu acabei não apenas reencontrando-a, como ela acabou indo para a minha casa naquela noite. Logo depois iniciamos um namoro breve, mas daqueles que guardamos para sempre no coração.

Isabella no dia 14/04/2008


Abraços são especiais. Mesmo sendo algo tão simples, e que geralmente é feito com qualquer pessoa, eles ganham muito significado em momentos importantes. Naqueles em que palavras não significam nada e o silêncio de um abraço diz o suficiente. Não existe nada para ser dito quando a alma está destruída.

O ano de 2008 foi marcante. Vivi descobertas sexuais. Conheci e explorei a minha liberdade e potencial pela primeira vez. A consequência disso foi o envolvimento com várias parceiras. Por outro lado, o lado familiar estava, como sempre, no limite. Num lugar perigoso em que decisões estavam sendo tomadas e o caminho mais fácil parecia ser olhar para o outro lado. Pensando nisso, percebo que meu excesso de cuidados e preocupação pode ter começado aí. Um aviso sério foi ignorado, pois o certo é cada um cuidar de si. Tenho dificuldades em entender isso e quero resolver o mundo de quem está comigo antes do meu próprio.

Eu não estava conversando com a minha avó nessa época. Ela estava no pior momento de sua depressão, tratando todos mal, fazendo com que todos se afastassem. No dia 13, um domingo, eu tinha um show para fazer. Saí de casa sem me despedir dela. Abri o portão com a minha mochila e o meu baixo nas costas, e fui embora. É impossível a gente prever o que vai acontecer e sempre vamos nos lamentar por não ter feito nada diferente, por não ter percebido os sinais. Virou uma culpa velada e que nunca será superada, independente do que digam. No último momento que dividimos juntos, eu optei por ir embora de maneira grosseira. Egoísta

Nunca mais a vi.

Me surpreendi com a minha capacidade de chorar. De lamentar. Parecia sempre que eu era mais forte, quase insensível, quando fui o mais arrasado. O dia seguinte, no velório, reencontrei o Diego, vocalista da minha banda, e um dos primeiros amigos que ficaram sabendo. A gente se abraçou. O único som era do meu choro abafando o dele. O mesmo se repetiu quando o Thiago (meu amigo de infância) chegou acompanhado de sua mãe. Quando o Joubert (meu sócio no Cinema de Buteco), numa incrível demonstração de autocontrole, foi incapaz de fazer qualquer comentário engraçadinho que fosse para quebrar o gelo. Mas foi justamente no ombro da garota que eu estava enganando que desabei com mais força. A pessoa que me amava, que queria o meu bem, que queria que eu a respeitasse e a amasse, e que eu simplesmente era incapaz de fazer tais coisas. Novamente, o meu egoísmo.

Ela me abraçou forte. Como se estivesse tentando tirar todo o peso e a dor de mim. E eu a apertei junto do meu corpo. Molhei a roupa dela inteira com minhas lágrimas, minha saliva, melecas, whatever. Isabella é uma menina pequena, mas nesse dia mostrou sua força. Ficou ali parada do meu lado, sabendo que o maior consolo existente estava na sua companhia silenciosa.

Eu trocaria tudo pela chance de ter um novo abraço. O último adeus. Sentir aquele calor familiar de quem me viu desde o primeiro momento, do meu primeiro choro, do meu primeiro dia de vida. De quem eu cresci junto e me ensinou a amar tantas coisas, a ser quem eu sou hoje.

Mariana no Metrô em 2004

O segundo abraço mais gostoso que eu já experimentei aconteceu em 2004, no Rio de Janeiro. Mais precisamente na estação de Metrô de Botafogo.

Dizem que uma das grandes maneiras de demonstrar carinho é com os lábios. É verdade. Qualquer lábio envolvido costuma significar carinho. Exceto para pessoas promíscuas ou incapazes de acreditar no amor. Aí é apenas putaria mesmo. De qualquer maneira, um abraço pode ter o mesmo nível de intensidade de um beijo. Ele envolve um monte de sensações. Pode ser tão desesperado quanto um beijo apaixonado entre o casal que se perdeu e reencontrou depois de anos.

Conheci a Mariana através do Harry Potter. Ela era meio antisocial. Um humor muito estranho. Bom gosto musical. E era lindinha demais. A gente se apaixonou e viveu um autêntico rolo virtual adolescente. Percebo que essa época foi o começo das coisas erradas que insistem em se repetir na minha vida atual. Talvez eu não tenha cura em relação ao egoísmo. Ou simplesmente seja burro demais para entender como evitar erros assim. Digamos que eu terminei com a Mariana para viajar para Natal e pegar uma menina com quem eu tive um rolo (virtual) anteriormente. Nunca disse que era uma boa pessoa. Despedacei o coração da menina. E isso tudo aconteceu em 2002. É assustador ver o padrão se repetindo (o período de dois anos). No entanto, ela me perdoou e voltamos. "Voltamos".

Eu estava completamente apaixonado pela garota. E sequer a havia conhecido pessoalmente. O máximo que acontecia era um papo rápido (e nada safado) pela Webcam dela. Em setembro de 2004, as coisas começaram a esfriar. O contato mudou drasticamente e ficou claro que ela estava a fim de outra pessoa. Na época, eu ainda não tinha certeza de que todas as pessoas são mentirosas interesseiras e tão ou mais egoístas do que eu. Ou seja, enquanto ela estava praticamente pensando em como perderia a virgindade, eu estava confiante de que era apenas um caso passageiro. O irônico disso tudo é que as coisas começaram a mudar justamente na época em que finalmente tomei coragem de viajar para o Rio. Trágico, né?

No mesmo dia em que contei que iria encontrar-la em uma semana no show do Offspring (que por sinal, eu havia tocado inúmeras vezes no assunto. Ela fingiu ser tapada para ignorar que existia a chance de eu ir), ela confessou que havia ficado com o menino. Imagine o lag mental que se passou comigo. Tive força para sonhar que seria possível contornar esse problema e que tudo daria certo. Como se um relacionamento a distância pudesse mesmo sobreviver quando uma parte se apaixona por alguém que mora logo ao lado. Eu viajei mesmo assim. Peitei a vida. Truquei o destino. Desafiei o amor.

Fui recebido pela minha querida amiga Bruna, que entendia perfeitamente o que eu estava sentindo. Ela via a minha tensão ao sair da sua casa para finalmente conhecer a Mariana. Bruna e sua prima Thay se divertiram muito com isso, para falar a verdade. Durante o caminho da Tijuca até Botafogo, as duas começaram a me chamar de T-tenso. O trajeto não é muito demorado, para quem não é familiarizado com o sistema carioca. No entanto, minhas mãos ficaram molhadas. Pingando. Minha cor passou de naturalmente morto para zumbi do George Romero. Tremia. Tentava pensar em algo para me controlar, só que parecia incrivelmente impossível sequer tentar não pensar que estava prestes a conhecer a pessoa  com quem vivi tantas experiências naqueles anos. Foi o meu primeiro "eu te amo". Não devia ser real, mas parecia o certo a se dizer. Pessoas falam essas coisas da boca pra fora. Acontece.

Chegando na estação de Botafogo, meu coração disparou. Por um momento pensei que eu realmente tinha mijado na calça. As pernas bambas caminhando até a escada rolante e então, a encontrei. Ela estava me esperando na entrada da estação. Não deu tempo de pensar, de falar "oi", de querer beijar, foi simplesmente uma coisa de me jogar nela como se não houvesse amanhã. Esse abraço marcou um momento especial, me fez sentir como é querer estar com uma pessoa que não queria estar comigo pela primeira vez. Virou um tipo de doença, aparentemente. Depois de minutos que pareceram horas, mas que devem ter sido segundos, a gente se soltou. Segurei a mão dela enquanto andávamos pelas ruas de Botafogo. Eu gosto muito desse bairro, aliás. Não por isso, claro. Ele simplesmente é um bom lugar para morar.

Se você ficou curioso (a) em saber, sim. A gente se beijou. Não foi um beijo espetacular ou inesquecível. Foi simplesmente triste, melancólico e com gosto de poeira. Nunca mais encontrei a Mariana. A gente mal se falou depois disso. Por uma coincidência do mundo, descobri muitos anos depois que ela havia ficado com um rapaz estranho chamado Leonardo. Esse carinha havia pegado outras duas meninas com quem eu tive relações. O mundo é estranho.

A Mariana não está nem no meu Facebook. Aposto que se casou com o garoto com quem me traiu e hoje está vivendo em alguma cidade na França. Apesar de tudo, ela me rendeu o primeiro abraço apaixonado da minha vida, e por isso serei sempre grato. E isso nos leva para o meu abraço favorito de todos os tempos. Também um abraço apaixonado, como não podia deixar de ser. Vamos falar da...

Julia no Rock in Rio em 2011

Em O Lado Bom da Vida, o personagem de Robert de Niro diz para Bradley Cooper: "Se a vida oferece uma oportunidade dessas, você não pode ignorar. Você não pode cometer erros. Você precisa correr atrás.". Eu li isso. Eu assisti isso. Não em 2011, claro, afinal o filme não havia sido lançado, mas a verdade é que não ouvi o conselho da obra linda de David O.Russell.

Assim como 2008, o ano de 2011 foi marcante. Era o fim de uma relação longa e destrutiva com a Isabella. Eu escolhi me confortar justamente com a mesma Débora que havia me abraçado no Pop Rock de 2005. Era fácil fazer isso porque a gente tinha uma relação de amizade com sexo. A ilusão do amor não deveria existir, o lance era apenas pela diversão. Só que eu nunca fui capaz de ser esse tipo de pessoa e durante todo o período em que "curtia" a vida adoidado com a Débora, conversava diariamente. Religiosamente. Constantemente. Com a Julia. Meu dia seria infernal se eu não ouvisse alguma coisa dela, se não recebesse nenhum SMS marcante engraçado reclamando do ônibus, dos cariocas, das pessoas. Eu ainda não havia percebido o recado que Robert de Niro me deixaria no futuro.

Julia vivia um relacionamento burocrático e ditatorial. Não havia felicidade. Bastava olhar nos olhos dela para saber que estava infeliz e em busca de socorro. A gente sente, a gente sabe. Os olhos não mentem. No entanto, Julia persistia. A gente havia tido um affair quente, e inesperado, na fila do show do U2, em abril do mesmo ano. Foi tudo surpreendente demais e isso nos aproximou de uma maneira em que médicos questionariam se éramos siameses intelectuais. Me acostumei a ter ela por perto. Ela se acostumou a me ter por perto. A gente estava por perto. Eu vivendo a minha vida cheia de sexo, drogas e bebidas. Ela vivendo a vida dela sem nada de sexo, drogas ou bebidas. Parecia improvável que a gente realmente pudesse ter algo de verdade um dia, mas mais impossível ainda era a possibilidade disso não acontecer. Eu queria ela. A distância me assustava, afinal era um trauma. Depois da Mariana, eu ainda me envolvi com uma outra garota do Rio. Nunca entenderei porque faço essas coisas comigo. A distância foi meu escudo para fingir que não sabia exatamente o que estava começando a acontecer.

Após abril, e de conversas frequentes por SMS ou e-mail (interrompidas em momentos que ela chegava no limite e desejava me esquecer), nosso reencontro aconteceu no Rock in Rio, em setembro. Lembro que tinha acabado de fazer um escândalo (literalmente) na Montanha Russa. Chorei, gritei, pedi para o cara parar. Tudo para envergonhar a Débora, a Bruna e o amigo Kibe. Consegui fazer todo mundo passar mal de rir. Fiquei feliz. Estava tudo lindo. Poderia ficar maior e melhor, caso houvesse alguém preenchendo o meu coração, vítima de minhas próprias sabotagens. Um verdadeiro escravo da minha ignorância, egoísmo, e especialmente burrice. Funciono de maneiras tortas, aparentemente. Tenho um fraco por causas perdidas, quando deveria aprender a viver o que é real. Enfim, devaneios à parte, faltava alguma coisa.

Eu mandava mensagens freneticamente para a Julia, que respondia com igual voracidade. Já havia reconhecido ela no meio da multidão. Haviam outras pessoas por perto, o namorado dela, por exemplo, mas foi ela quem vi primeiro. Fiquei olhando de longe.  Foi eu sair da Montanha Russa para ir direto encontra-la. Direto. Cruzamos com um monte de gente bêbada ou malucos fazendo filas. Tropecei em alguém, ela trombou com outro. E o meu olhar parou no dela.

Nota mental: se você olha para alguém em uma situação assim, de reencontro, e sente que existe um verdadeiro túnel de energia do bem separando vocês de qualquer interferência externa, não pense demais. Não fuja. Aceite: você está prestes a se apaixonar.

Na minha experiência de vida, sabia que meu abraço com a Mariana havia sido especial. Acreditava que superar aquilo seria impossível. Tipo, eu teria que ser prisioneiro em algum país como a Colômbia, e então voltaria para casa anos depois e receberia esse tipo de abraço da minha mãe, sabe? Que feliz foi constatar um engano desses, uma verdadeira surpresa foi sentir que era possível superar o impossível. O meu impossível.

Aquele abraço foi mais desejado que sexo. Foi melhor que muitas transas que tive, na verdade. E sequer me lembro de ter tido uma ereção ou não, de tanto que isso importava. Um abraço daqueles não é para qualquer um. Não é algo comum, não é fácil ou simples de acontecer. É especial. Único. A gente se prendeu um no outro com ternura, amor, carinho, cuidado, confiança. O mundo estava acontecendo ao nosso redor e havia apenas silêncio. Só o cheiro do cabelo dela no meu rosto. O cheiro do perfume dela passando pelo meu nariz. Os seios dela no meu peito. Nossos braços apertando o ombro um do outro. 

E mesmo assim, depois de ter sentido essas coisas. Falado um "uau". E termos praticamente ignorado o fato de que os dois estavam acompanhados, fui cego e burro o suficiente para não entender que o meu destino, a minha vida, o amor da minha vida, estava ali parada na minha frente.

Já errei antes, mas a idade nos torna experientes para reconhecer que Robert de Niro deixou um recado bem sério e simples. E que eu não ouvi. O curioso é que a Julia protagonizou outros abraços marcantes na minha vida. Um breve momento antes do show do Pearl Jam, ainda em 2011; durante um amasso selvagem numa boate deserta no Rio, em 2012; quando ela lutou por mim e veio de maneira inesperada para BH, em 2013, e tentar evitar que eu fosse enganado por uma pessoa cruel; e o nosso Reveilon solitário em 2012. Provavelmente, terei pesadelos por não ter seguido o conselho do meu querido Jake LaMotta.

Irônico encerrar falando justamente de um ator que ganhou fama interpretando mafiosos no cinema, não?

domingo, 9 de março de 2014

Batom



Ela manda uma foto. Diz que está testando o batom. Recebo a foto. Abro a foto.

Dói o tanto que essa filha da puta é bonita e eu sou louco com ela. 

Apenas digo: "Bonito esse. Bem bonito. E seus olhos também."

Ela não diz mais nada. Eu estou gritando: "PUTA QUE PARIU! VOCE É A COISA MAIS LINDA QUE EU JÁ VI!"

Minutos depois ela manda outra foto. Desta vez, ela diz: "É estranho ter boca".

A foto chega a ser indecente. Ela consegue parecer mais bonita do que na anterior sem o menor esforço, bastou mudar a expressão. Meu estômago se contorce com as borboletas. E eu pergunto: "Estranho por que?"

Ela não demora a explicar. "Porque eu não tenho. Aí com batom, eu passo a ter. E aí as proporções e cores do meu rosto mudam."

Acho que ela é louca. Digo que o batom deixa os lábios dela atraentes para beijar e que ela fica muito bem de batom. Evito elogios maiores. Evito dizer que quero devorar a boca dela. Evito pensar que é ela me mostrando o que eu perdi. Evito pensar que nunca tocarei esses lábios novamente.

"No caso, o que eu estava testando era justamente uma forma de mattificar o batom, para ele não sair a toa. Então, pode beijar mesmo".

Ela está flertando comigo?

Decido ligar o foda-se. "Vai começar a sair de batom mattificado agora?"

"Não. Foi só um teste. Agora tchau, vou comer. Beijo."

Crec.

Antes de quebrar e cair, pergunto: "Vai no Lollapalooza assim?"

"Não."

Crec.

Resta força para dizer, com pesar, apenas um: "Que pena." O mais sincero já ouvido. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Outro Lado

Uma das coisas mais idiotas que uma namorada pode fazer é querer se comparar com a anterior. Cada história é especial de sua própria maneira e nunca será superada, mas é claro que essa é um fato que o cérebro se recusa a processar corretamente. São noites sem dormir pensando se ele amava mais a ex, se ela engasgava com o pau dele durante o sexo oral, se ele gemia mais alto com ela, dentre as mais variadas loucuras que configuram um delírio noite adentro nas mentes mais ciumentas e possessivas. 

Existem pessoas que acham ser portadoras de um aparelho capaz de medir o tamanho do amor, pois só isso explica como é que existem garotas afirmando que o namorado não a ama, é infeliz e amava mais a ex-namorada. Possivelmente essas mentes geniais estão desperdiçadas em alguma carreira comum quando deveriam trabalhar na NASA ou sei lá, o FBI. Desconsiderando tais mulheres com talentos tão raros, não existe uma maneira de se medir o amor ou o sentimento de alguém. Isso acontece no dia a dia, enquanto o casal está junto e ele diz nos olhos dela o quanto a ama. Ou enquanto ele tenta fazer cafuné cabecinha linda e adormecida dela - ainda que corra o risco dela reagir como se um mosquito estivesse próximo do seu ouvido. Também tem como medir nas pequenas atitudes, como puxar a cadeira do restaurante, abrir a porta do carro, e outros exemplos do dito perdido cavalheirismo. 

Para dizer a verdade sobre o caso: ele a amava demais. Do seu jeito maluco, mas era real. Os fantasmas dos relacionamentos passados rondavam a mente dele, mas bastava chamar os Caça-Fantasmas e tudo se resolvia e cada vez menos ele foi atormentado pelas memórias. Ela ficava se sentindo abandonada, sem lugar, e se comparava com o relacionamento anterior dele. Ela só ignora que o relacionamento anterior dele se resumia a sexo, maconha, mais sexo, mais maconha e cerveja. Não era um namoro, não tinha a pressão, o compromisso, as responsabilidades de um namoro. Mas não era fácil colocar isso na cabeça dela, que insistia em se comparar e acreditava piamente que ele havia sofrido pela amiga que ele comia e queria namorar. 

Depois de semanas brigando, o cara chega no limite depois de ler: "você não me faz infeliz, só não me completa", e se perguntar o que porra esta mulher quer da vida. Ele para para pensar um pouco e conclui que fez o que poderia para garantir a felicidade da pessoa, mas talvez tenha feito algumas coisas errado. Agora que ela o dispensou, sobra muito tempo livre para relembrar o passado e tentar descobrir se as acusações de "você não me ama" são merecidas ou apenas um delírio completo de alguém que não conseguiu enxergar que estava vivendo um sonho. 

A verdadeira pior maneira de se descobrir apaixonado é quando isso só acontece depois que o relacionamento chegou ao fim. O injusto é só quando acontece uma situação assim, em que você foi apenas incompreendido e acabou sendo colocado de lado como um babaca insensível e que não soube valorizar a pessoa amada. Ou o conceito de valorizar está muito superestimado ou ela queria mais do que era possível. Ele pelo menos já tinha certeza do que sentia e o fim foi somente para aumentar o seu sentimento e perceber que a gente só sabe valorizar depois que perde de vez.